(O Que Eu Quero Ser) Quando For Filósofo
Acerca do Artigo "The Life of Gale".
Por esta altura deveria estar a acabar de escrever o editorial do mês de Dezembro para o blite – descanso os leitores que estará terminado dentro em breve. Em vez de ter a mioleira enfiada nos devidos afazeres, fui impelido a executar a digressão que lêem. O último artigo do meu amigo e colega editor Luís Rodrigues – “The Life of David Gale: o que eu não quero ser quando for filósofo” (aconselho a sua leitura prévia) – gerou no meu imo a sensação que havia que lhe prestar o devido respeito e homenagem, replicando-o. O artigo é acerca do filme The Life of David Gale. Não o vi, como tal, não teço comentários acerca do seu teor. O Luís estabelece uma ligação entre a vida desse filósofo e a vida de um outro filósofo maior, Sócrates. A ligação refere-se ao facto de terem ambos defendido até ao naturalmente permitido as suas convicções, i.e. com as respectivas vidas. As convicções de um e de outro filósofo têm uma magnitude diferente. Daí, Sócrates e David Gale terem também magnitudes imensamente desniveladas enquanto figuras históricas. Por um lado, o filósofo contemporâneo é motivado pela convicção de que a pena de morte é um erro. Por outro lado, tanto o julgamento, como a consequente pena a que o filósofo Antigo se sujeita derivam das suas convicções abalarem as fundações da sociedade do seu tempo, especialmente o funcionamento normal da Cidade de Atenas de então. O que é que Sócrates andava a dizer às gentes que tanto as irritava? Dizia-lhes ou demonstrava que «a sabedoria humana é de pouco ou nenhum valor», ou seja, que o saber que as pessoas disponham era de valor nulo. Ora isto não é fácil de engolir. Como se diz no Brasil, não é bebida que caia redonda. Aliás, se as pessoas aceitassem tal coisa, resultaria em modificação profunda o seu modo de vida. Por isso, o julgamento do filósofo ateniense – que podem ver relatado por Platão na Apologia de Sócrates – é um julgamento que põe como forças adversárias a Cidade de Atenas, tal como era, e Sócrates. Logicamente, o velho barrigudo é levado de vencida. Ao vencido, qualquer que ele fosse, restava a sua morte, para que o oponente pudesse prosseguir a sua vida normal. Ao réu sobeja a cicuta. Continuar leitura.