«(...) Ao lado da infinita variedade de ideias ou objectos do conhecimento, há alguma coisa que os conhece ou percebe, e realiza diversas operações como querer, imaginar, recordar, a respeito de eles. Este percipiente, ser activo, é o que chamo mente, espírito, alma ou eu. Por estas palavras não designo alguma das minhas ideias mas alguma coisa distinta delas e onde existem, ou o que é o mesmo, por que são percebidas; porque a existência de uma ideia consiste em ser percebida»
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(G. Berkeley, Tratado do Conhecimento Humano - "Dos princípios do conhecimento humano" (2), 1710)
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George Berkeley, 1685 – 1753, foi bispo de Cloyne e um dos mais importantes filósofos anglo-saxónicos de todos os tempos. É principalmente conhecido pelo seu idealismo e por ter sido um dos seus fundadores. Neste pequeno excerto, Berkeley prepara o terreno para avançar a sua teoria de que tudo o que existe tem que existir na mente ou no espírito. A noção é fácil de compreender se cedermos que qualquer coisa que conhecemos só tem existência – para nós – na medida em que é uma ideia que é por nós conhecida (no “interior" da nossa mente). Berkeley depreende daí, e não só daí, que tudo o que existe, existe 1) como ideia no Espírito de Quem tudo conhece: Deus; e 2) no espírito de quem participa um pouco desse conhecimento: nós, mentes ou espíritos com capacidades cognitivas, i.e., de captar as ideias, percebê-las. O trecho que agora apresentamos é apenas a primeira premissa, muito ténue, de um intrincado, e depois muito disputado, argumento exposto por Berkeley; cuja conclusão é, grosso modo, a que referimos.
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Luís Rodrigues