Pi...tágoras
Vi no outro dia o filme Pi (1998), de Darren Aronofsky, realizador do bem melhor Requiem for a Dream. De facto, Pi não me impressionou.
Em primeiro lugar, pega-se na história do génio matemático obcecado e sofredor de múltiplas desordens psíquicas. Preencha-se metade do filme com drum n´ bass a acompanhar as crises mentais do protagonista. Repita-se uma catchy line (aquela história de olhar directamente para o Sol, quando era miúdo) até à exaustão e polvilhe-se com o chamamento da Matemática e das suas apelativas metáforas de “linguagem secreta da Natureza”, “ponto de apoio do Universo”, etc.
Matemática e Filosofia estão, obviamente, intimamente interconectadas. No entanto, desconfio bastante da ideia de que a Matemática é a chave para a compreensão do Universo. Entendo-a principalmente como uma linguagem, como um modo de dizer aquilo que nos é acessível, através da exactidão das operações com números. A Matemática, uma soberana forma de “falar” com exactidão (não necessariamente de falar verdade, na minha opinião), é então uma para-linguagem, que na representação em linhas concorrentes, paralelas ou perpendiculares (metáfora geométrica) de todas as linguagens acessíveis ao ser humano, ocupa o lugar específico de relatar o Real em traduções numéricas e operativas da nossa cognitio sensitiva.
Feito então o talvez polémico apontamento filosófico, aconselharia, dentro do mesmo tema, o bem mais convencional A Beautiful Mind (2001), do convencional Ron Howard, numa excelente interpretação de Russel Crowe e a presença, nunca de subestimar, de Jennifer Connely.
.
.
Pedro