(introdução)Julga-se saber que Anicius Manlius Severinus Boethius, conhecido nos meios filosóficos e literários por simplesmente por Boécio, escreveu A Consolação da Filosofia enquanto aguardava a sua própria execução, presumivelmente depois de ter sido condenado à morte. Boécio insinua nessa obra as razões pelas quais a filosofia tem um papel crucial na vida dos homens; insinua como pode dar-lhe um sentido, uma finalidade. Sugere-se uma procura constante do conhecimento e do saber, uma vida de postura ética vincada, de rejeição do facilitismo, de intencionalidade. Curiosamente ou talvez não, dezasseis séculos depois de Boécio ter escrito esta magnífica obra há ainda quem se lamente pelos “cantos” da filosofia, questionando, desconsoladamente, a sua utilidade. Nos três artigos que se seguem vou tentar mostrar as razões pelas quais apesar de fazer todo o sentido questionar a utilidade da filosofia usando a própria filosofia, sujeitando-a assim a uma reformulação constante e necessária, não faz contudo nenhum sentido assumir uma postura excessivamente céptica, relativista ou subjectivista com relação aos seus objectivos e, logo, utilidade.
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