"Curta" Explicação
«Ora como a comunidade é o regime político, a virtude do cidadão deve necessariamente ser relativa ao regime. Posto que há diferentes modalidades de regime, não pode existir uma única virtude perfeita do cidadão bom» (Aristóteles, Política, 1276b).
O excerto está inserido na demonstração da diferença entre "bom cidadão" e "homem bom". Aquilo que Aristóteles quer levar a efeito com o argumento é que, havendo diversas virtudes para que alguém se possa dizer "bom cidadão", a noção "homem bom" é diversa da noção "bom cidadão", uma vez que o "homem bom" é designado dessa forma devido a uma «virtude única». Como tal, não podem ser uma e a mesma coisa. Qual a importância da distinção? A distinção é mais lata do que a distinção entre estas duas noções, corresponde, na verdade, a uma distinção entre o campo moral e o campo político. Porque é que "bom cidadão" é definido na esfera política? Porque é «relativo ao regime político» em vigor. Tal não se passa com o "homem bom", que é definido de acordo com uma única virtude, independentemente da comunidade onde vive. Mas porque é o "cidadão bom" definido de acordo com o regime político em que vive? Porque a função do cidadão é «a segurança da comunidade», i.e. a preservação da comunidade, tal como ela é. Ora, é o cumprimento dessa função que determinará um "bom cidadão". Todavia, a função de salvaguardar a comunidade não pode ser levada a cabo da mesma forma em todos os regimes de comunidade. Naturalmente é diverso salvaguardar um regime monárquico de salvaguardar um regime democrático. A função específica do cidadão num e noutro regime difere, e difere consoante o regime em vigor. Logo, há várias virtudes «perfeitas do bom cidadão».
Cumps!
Diogo S.
Ps: a nova "curta" da semana está já disponível, ainda consignada ao tema "filosofia política". Leiam-na na homepage do site.