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sábado, novembro 12, 2005

A Vendetta dos folhados de Salsicha

Ontem, muito por estar muito constipado e por não me apetecer de todo estudar, vi alguns excertos de um programa cultural de “ponta” português que dá pelo nome de “A Revolta dos Pasteis de Nata”. Fiquei admirado com a cultura dos intervenientes, com a desenvoltura do apresentador e com as brilhantes conclusões a que todos chegaram no final. Mais admirado fiquei quando visitei o respectivo blog, onde figuravam posts relativamente simples ou ingénuos que tinham, vá-se lá perceber porquê, todos para cima de 70/80 comentários. Perguntei-me então: estes tipos têm esta afluência porquê? O que é que há de tão interessante no programa e no blog que leve tantos internautas (e já agora cultos e bem educados, basta dar uma olhada nos comentários coff.. coofff. Esta maldita tosse não me larga, desculpem) a visitar um Blog tão banal e a verem um programa tão sem…hum… neste caso não é “sem sal”, é “sem canela”. Não pode ser o conteúdo trivial das discussões. Ou pode? Não podem ser também as carinhas lindas que lá põem para ganhar audiências. Ou podem? Será que é a estupidez reinante nos jogos de palavras do apresentador (mas não no apresentador, que não é nada estúpido, bem pelo contrário, é bem manhoso) que confunde as pessoas ao ponto de quererem mais, como bons viciados em estupidez, ofensa e crítica desinformada? Ah, não pode ser! Não pode mesmo ser! Porque, se fosse isso, era muito grave. Era grave, pois eu, sim, eu, estava a contribuir, voluntária e involuntariamente, de várias formas para que a situação se mantivesse. Primeiro, porque pago a bom pagar impostos para que se mantenha um elefante branco como a Dois. Segundo, pago, indirectamente, a publicidade, e taxa, da Um, além de pagar à Lusomundo do oliveirinha, que paga à RTP, para que os administradores da RTP possam financiar programas tolos na Dois (o que nos leva à velha questão de saber onde acabará a cadeia de irresponsáveis mandatados neste país). Terceiro, ainda vejo e vou ao Blog? Então, mas assim ainda estou a contribuir mais em “géneros”, não é?
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Os deuses devem estar loucos! Pensei. E fui para a cama revoltado comigo mesmo. Jurei vingança, jurei vendetta (que é pior que vingança): a Vendetta dos Folhados de Salsicha!
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Antes contudo de prosseguir a vendetta, quero fazer um ponto de ordem. Tive recentemente uma discussão com um colega da Blogosfera a propósito de uma crítica velada que fez a um artigo que temos aqui no nosso Blog. O artigo é de facto incompreensível em muitos sentidos, e principalmente para quem não tem formação filosófica. Eu tentei defender a honra da casa, o conteúdo do artigo e o autor argumentando que quem não tem formação numa determinada área (seja ela qual for) deve ser muito prudente nas suas críticas a uma qualquer produção provinda dessa área. Claro que a blogosfera é um espaço público que se quer maximamente livre e plural. Isso dá uma certa latitude a quem quer criticar abertamente a produção do seu vizinho (o que nem foi o caso, a crítica, a existir, foi muito leve e inconsequente). Mas o facto de estarmos na blogosfera não nos isenta de responsabilidades. Por exemplo (salvaguardando as enormes diferenças) se eu detectar um blog com pornografia infantil, não devo ceder à tentação de não o denunciar com o argumento de que a minha denúncia violaria o direito à liberdade de expressão do autor do referido blog. O mesmo se passa em níveis em que a gravidade ou o dolo são menores: se eu não sou jornalista, dificilmente posso apresentar críticas inteligentes e construtivas ao trabalho dos jornalistas. E se ainda assim as fizer, não estou a ser um agente - de informação -responsável no ciberespaço.
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Ok! Isto tudo apenas para dizer que eu não deveria estar a criticar a Revolta dos Pasteis de Bacalhau (sorry, dos pasteis de Belém) no âmbito da minha vendetta pessoal. É que eu não tenho formação em jornalismo nem em audiovisual, nem em nada que me habilite a ser crítico de televisão. Como tal (esta foi só para rimar com “audiovisual”), sou incompetente para decidir o que é correcto ou incorrecto, o que está bem ou mal com aquele programa. Segue-se que deveria era estar caladinho, ser responsável e não reclamar protagonismos de que posso vir a arrepender-me.
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Mas há uma falha neste argumento, gritante, que é a seguinte: a conclusão a que cheguei depende da premissa que a Indignação-dos-Presuntos (bolas! Sempre a enganar-me no nome daquilo…se não me ponho a pau ainda sou processado pela alta autoridade para a comunicação social) é um programa jornalístico, cultural, de debate, de informação e com qualidade audiovisual. É falso! Esta premissa é falsa. Para ver porquê basta tomar como bitola os programas que a Dois ou a Sic Notícias tem com essas características e compará-los com Fuga-do-Bairro-Alto-Sem-Pagar-a-Conta (lá estou eu a meter-me com os tipos outra vez, estou impossível: é o rancor por terem mais visitas que nós, embora a diferença não seja significativa, anda na ordem dos alguns milhares :)). Sejam razoáveis e passem o programa pelo crivo da vossa crítica. Depois digam-me o que acham da sua qualidade, nos sentidos que referi acima.
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Que isto é uma verdade incontornável, nem os mais pirrónicos duvidarão. Ora, isso implica que os Pasteis-sem-Açucar são um mero show de nonsense televisivo e cultural, lutando com o Fiel ou Infiel, a Quinta das aberrações (ou o juramento de bandeira dos gays extrovertidos ou lá o que é aquilo), a Manela-Bacoradas da TVI e o José-Radares-dos-Anjos (ou é dos Santos? Nunca sei…) da RTP pelo título dos mais infelizes e pobres de espírito da televisão nacional.
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Se os Crepes-de-Canela-com-Pimenta são um show de nonsense que fica muito a dever em termos de classe e criatividade às brilhantes tiradas dos Unas, dos Nogueiras, dos Horácios e dos Fedorentos, entre outros, por que motivo, dizia eu, sendo o programa uma reles conversa de café, não poderia eu criticá-lo? É que para criticar aquilo não é necessário sequer ter o curso de conversa de café ou o 12º ano da universidade da Caparica. Para comentar aquelas tristes figuras basta possuir algum bom senso, morar nos subúrbios, não andar de comboio na linha de Sintra à hora de ponta e, principalmente, não ter sido cliente do Júlio de Matos mais do que três meses seguidos. Ora, se estas são as condições necessárias para comentar o programa com propriedade, eu posso perfeitamente fazê-lo.
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Assim, sentindo-me eu “habilitado” para criticar semelhante aberração, passo realmente a fazê-lo. Mas espera! O que há mais para dizer?..Nada! Está tudo dito! Aquilo nem merece mais comentários. A minha vendetta está consumada. A minha inveja e o meu rancor estão satisfeitos. Não levarão a melhor!
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Bem sei que eles estão-se bem borrifando para isto, mas fez-me bem. Se querem um blog inteligente, com opinião critica e informada, desliguem a TV e vão à Blasfémia (há muitos outros). Depois digam ao Sócrates (o PM, não filósofo) para arranjar maneira de “descontar” aquilo que vocês pagam directa ou indirectamente para que os gulosos medíocres das Filhoses-de-abóbora tenham uma vida acima da média e ainda se riam às vossas custas, dizendo: “o povinho gosta é destas coisas”.
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Este artigo é da única e inteira responsabilidade de Luís Estevinha Rodrigues. A Alta Autoridade que se livre de processar os meus colegas editores :)
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PS: A Vendetta dos Folhados de Salsicha pode vir a ser uma nova rubrica no nosso Blite. Podem enviar-nos textos inteligentes e informados, criticando programas de televisão, revistas, jornais ou qualquer outra coisa que não vos pareça bem – o nosso Blog incluído :)

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