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quinta-feira, novembro 03, 2005

Editorial de Novembro, por Luís Rodrigues

Conseguimos chegar a Novembro! Digo “conseguimos” porque tem sido bastante difícil alimentar um projecto com as características do Cinefilosofia. Talvez por o projecto ser demasiado inovador, talvez por ser desinteressante, talvez por tentar unir áreas aparentemente tão distantes como a filosofia o cinema e as artes, ou talvez por simples falta de jeito, não temos conseguido uma colaboração activa por parte de amigos e visitantes (há honrosas excepções). Isto entristece-nos, claro. Julgámos nós que a ideia que preside ao Blite seria bem acolhida quer por amantes da sétima arte quer por especialistas em filosofia e/ou outras disciplinas académicas que de alguma forma estivessem em condições de contribuir positivamente para o desenvolvimento da ideia. Pelos vistos, enganámo-nos.
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Nada de mal discorre daí. Pelo contrário, é bom aprender com os nossos erros. Mas entristece-nos ver (modéstia à parte) projectos com alguma qualidade serem preteridos em favor de projectos corriqueiros, cuja palavra-de-ordem é a banalidade e a ideologia dominante não consegue passar as fronteiras da trivialidade. Talvez sejam precisamente essas as molas do sucesso!
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Nós sabemos que uma grande maioria de pessoas prefere o fácil, o rápido, o descartável, a passividade, o obsceno etc., em detrimento do trabalho, da actividade, do pensamento, da crítica, da cultura, etc. Sabemos também que no pólo oposto a estes amantes do fútil e do fácil estão os especialistas sobranceiros. Estes obcecados experts, que tal como os burros com duas palas fitam obstinadamente o seu fardo de palha (uma metáfora para o trabalho em que são especialistas, contra mim falo), não conseguem livrar-se do seu alto grau de exigência científica e da sua falta de tempo, não se dignando sequer por isso a submeter um mísero artigo de opinião. Quantos especialistas já nos visitaram? Quantos licenciados? Quantos mestres? Quantos professores? Quantos críticos de arte? Asseguro-vos que alguns, senão mesmo bastantes. Tudo, claro está, graças ao nosso constante trabalho de divulgação (sabemo-lo também graças aos links que foram sendo colocados em diversos locais muito frequentados da Web por via do reconhecimento da nossa qualidade). Ora, quantos especialistas já submeteram um artigo no nosso Blite? Dois! Sim, dois!… um dos quais um fê-lo apenas por uma vez. Há várias explicações para esta falta de disponibilidade, a saber, não dá dinheiro, falta de tempo, desconfiança no projecto, preconceito quanto à sua dimensão, complexo de superioridade, medo de ser avaliado, vergonha académica, etc. Estas razões são ridículas, mas conseguem manter as pessoas à distância. É pena, ficamos todos a perder com isso.
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Mas nem tudo são tristezas. Anima-nos a perspectiva de termos oferecido até esta data alguns artigos que pensamos possuírem qualidade. Não nos estamos propriamente a referir a artigos sobre a cor dos boxers do Brad Pitt (que têm o seu mérito), nem estamos a falar de artigos que esclarecem a consistência lógica do modus ponens. Os primeiros são, julgo, desinteressantes; apesar de terem grandes audiências -- tal como muitos pasquins, programas e revistas que por aí andam de qualidade muito dúbia --, graças ao facilitismo instaurado que descrevi acima com algum pormenor. Já os artigos do segundo tipo dificilmente podem “sair à rua” e serem percebidos por uma grande maioria das pessoas. Não, decididamente não é deste tipo de artigos que estamos a falar. Estamos a falar de artigos que, por um lado, se esforçam por serem percebidos por pessoas sem formação em filosofia e arte, e, por outro, podem ser analisados e criticados pelos especialistas. Estamos realmente a falar de artigos que visam um espectro alargado de pessoas e, simultaneamente, têm alguma qualidade filosófica e cultural. Estamos a falar, enfim, de artigos que visam pôr a filosofia, a ciência e a arte “na rua”, tal como ambicionava Nicolau de Cusa e outros homens que compreendiam que o saber de nada serve se não for adquirido por uma maioria razoável de pessoas, e se não tiver uma forte componente pragmática.
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Nós não nos conformamos com a estanquicidade académica. Queremos ultrapassar os limites impostos por seitas dos mais variados credos filosóficos e artísticos. Queremos transpor as barreiras obscurantistas dos círculos reservados aos iniciados. Queremos, enfim, contribuir para a divulgação da filosofia e da cultura; pouco importando se o fazemos analisando uma obra hollywoodesca de Spielberg ou uma extravagância cinematográfica de Buñuel.
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Por tudo isto, e por muito mais, estamos motivados para prosseguir e desenvolver este nosso projecto. Temos consciência que nos esperam muitas dificuldades. Esperamos também encontrar pelo caminho algumas resistências por parte daqueles que não comungam da nossa abertura e das nossas ideias. Sabemos que a filosofia e a arte são pseudo controladas por “ilustres desconhecidos” que detêm o poder intelectual do alto das suas cátedras e dos seus “Óscares”. Imaginamos que lhes é difícil ceder a sua sabedoria quando isso implica terem de partilhar um poder tão arduamente “chupado” à sociedade graças a canudos e outros objectos de pseudo-mérito, aliás, nem sempre conquistados com mérito. Mas as coisas são mesmo assim: os rebeldes de ontem são os governantes de amanhã. Conseguimos conviver com isso desde que nos deixem louvar a liberdade e amar o saber. O resto são cantigas de embalar…numa grande maioria, recursivas e desafinadas.
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Não somos detentores da verdade e da sabedoria, mas ele há coisas que são por demais evidentes…
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Um abraço!
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Luís Rodrigues

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