Determinismo, Fatalismo e Livre-arbítrio.
Parte I
Donnie Darko é um caso de culto. É um daqueles filmes que ou se ama ou se odeia, não há hipótese de ficar indiferente. Importa pensar na razão por que é assim. O que é que o filme apresenta que mexe tanto com quem o vê? (e o compreende, claro).
Como os problemas abordados pelo filme são muitos e bons, dividirei este artigo em duas partes, esperando com isso facilitar a digestão filosófica. Na primeira parte do artigo, esta, introduzo brevemente os traços gerais do filme e apresento um vislumbre do aparato conceptual necessário para perceber o que está em jogo. Na segunda parte lanço a minha interpretação do filme aos sábios das películas cinematográficas (quer dizer, aos leões), esperando sinceramente não ser comido por esses brilhantes críticos da 7ª arte, por certo muito mais perspicazes e espertos do que eu.
Lerexcertos:
...Donnie vive um conjunto de ocorrências enigmáticas e rocambolescas. Por acidente, ou talvez não, só se percebe no final, um motor de um 747 cai dos céus justamente em cima da casa de Donnie, arrasando por completo o seu quarto, um misto de violência aerodinâmica e de fenómeno do Entroncamento...
...Todos nós, agentes racionais, conscientes do mundo e conscientes de nós próprios, nos preocupamos pelo menos uma vez na vida em tentar perceber se estamos sujeitos àquilo que vulgarmente se designa por Destino – o BIG-D!, que tudo comanda e que não deixa grande margem de manobra para sermos livres. A perspectiva do BIG-D coloca-nos perante esta fantástica questão, de difícil resposta, que é a de saber se o nosso futuro está predeterminado por alguma ordem cósmica, mecânica divina, lei(s) da natureza, sequência de causas, ou qualquer outra coisa que não seja uma nossa capacidade intrínseca de escolher livremente, de agir em função dessa liberdade de escolha, e de assim determinar (construir) o nosso próprio futuro...
..Os defensores do determinismo radical sustentam que se a natureza tem de facto um funcionamento “determinista”, escolher e agir em liberdade é impossível. Se aceitarmos isto, escolhas e acções livres são apenas sonhos de robots conscientes (nós)...